Várias das mais de 3 mil substâncias que compõem um
cigarro são prejudiciais à saúde. A dependência, no entanto, é criada
essencialmente pela nicotina. Após a inalação da fumaça, ela chega ao
pulmão e, dele, atinge o sistema circulatório e o cérebro, em poucos
segundos. Na membrana das células nervosas, a nicotina se liga aos
receptores de acetilcolina (nAChR), iniciando assim uma cascata de
sinais, o que desencadeia atividade elevada no núcleo accumbens e na
área tegmentar ventral (veja imagem). Essas são importantes regiões do
sistema de recompensa neuronal. O núcleo accumbens libera grande
quantidade de dopamina – que transmite as sensações de desejo durante o
ato de comer, durante o sexo ou consumo de drogas. O fumo frequente
modifica esse mecanismo, pois os neurônios reagem aos fluxos regulares
de nicotina formando mais receptores de nAChR. Isso inicialmente faz com
que o efeito da substância que causa dependência seja reforçado. Com a
abstinência, surgem então os sintomas causados pela falta da nicotina.
A
força de vontade na hora de parar com o cigarro é tão importante
porque somente depois de cerca de um ano sem nicotina a quantidade de
receptores de nAChR retorna ao nível do de um não fumante. Nesse período
é registrado o maior número de recaídas. No entanto, o fato de ser tão
difícil manter-se abstinente não está ligado apenas às modificações das
células neurais; os estímulos do ambiente são decisivos, e mesmo depois
de anos a tentação de fumar pode continuar muito forte em situações
típicas – como ao beber uma cerveja com amigos ou diante de uma máquina
de vender cigarros.
A pesquisadora Amy James e
seus colegas da Harvard Medical School em Belmont, Massachusetts,
estudaram o efeito dessas tentações sobre o cérebro dos fumantes. Os
cientistas mostraram a mulheres fumantes que queriam deixar esse hábito,
alternadamente, imagens de cigarros e de objetos neutros, registrando
paralelamente a atividade cerebral por meio de tomografia por
ressonância magnética funcional (TRMf). Então iniciou-se a
desintoxicação apoiada por uma combinação de substituição da nicotina e
terapia comportamental. Resultado: 12 das 21 participantes permaneceram
abstinentes até o término da fase de tratamento de oito semanas. As
imagens de seu cérebro mostraram que algumas regiões reagiam mais
intensamente aos objetos associados ao fumo naquelas que sofreram
recaída do que nas suas companheiras abstinentes: entre elas, o chamado
córtex insular que dirige nossa atenção para situações internas – por
exemplo, a necessidade de fumar.
Os
pesquisadores observaram ainda atividade aumentada na parte dorsal do
córtex cingular anterior (dACC, do inglês dorsal anterior cingulate
cortex). A área também é importante para dirigir a atenção, pois ela
normalmente controla os impulsos que surgem no córtex insular,
inibindo-os.
Inicialmente, parece improvável
que o dACC fique mais acelerado justamente naqueles que sofreram
recaída. Amy e seus colegas explicam a questão com outra observação: os
neurônios do córtex cingular anterior e o córtex insular trabalhavam de
forma menos sincronizada nos afetados do que nos abstinentes -– o que
indicaria uma ligação mais fraca entre as duas áreas. Para manter o
controle comportamental, o dACC provavelmente teria de elevar sua
atividade. Assim, é muito importante para aqueles que pretendem deixar
de fumar manter-se, justamente no início do tratamento, longe de
estímulos desencadeadores do desejo de acender um cigarro.Fonte: https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=4274139213395044727#editor/target=post;postID=5055412441331707491