22 de abril de 2016

Esse TOC que não me deixa.


Por: Kethlin Meurer

Medos exagerados de se contaminar, lavar as mãos a todo o momento, revisar diversas vezes a porta, o fogão ou o gás ao sair de casa, não passar em certos lugares com receio de que algo ruim possa acontecer depois, ficar aflito porque as roupas não estão bem arrumadas no guarda-roupa, ou os objetos não estão no lugar em que deveriam estar, são alguns exemplos de sintomas característicos do Transtorno Obsessivo Compulsivo, conhecido como Toc.

De acordo com o psiquiatra Alex Resende Terra, o Toc pode ocorrer em qualquer idade, mas é mais comum em adolescentes. Algumas pessoas podem até demorar para desenvolver a doença. Os sintomas se tratam de repetições ritualísticas e, em alguns casos, começam mais brandos e depois se agravam. São muito semelhantes nas pessoas.
O profissional explica que o Toc não é uma doença psicológica, mas tem um fundamento fisiológico. 'Não é uma escolha a pessoa ter Toc e também não é fruto de conflito psicológico. Na verdade é um distúrbio neurofisiológico cerebral', comenta.

CAUSAS

O psiquiatra ressalta que o transtorno tem um componente genético importante, isso porque pessoas que desenvolvem Toc é porque, na família, há alguém que já teve a doença ou tem manias com limpeza e organização, por exemplo.

O que existem também são os fatores desencadeadores. Quando alguém tem emoções mais fortes, como ansiedade, tem possibilidade de desenvolver a doença. Segundo ele, de uma forma geral, o sintoma mais específico do Toc e que dá origem a ele, é a ansiedade.Dentro das possibilidades da presença dos sintomas, existem níveis mais leves e outros gravíssimos. No nível grave, as pessoas não conseguem fazer outra coisa a não ser toda aquela ritualística. 'Tem quem passa o dia inteiro tomando banho, outras fazem até lesões na pele de tanto esfregarem e lavarem as mãos', complementa.

Como se apresenta?

O transtorno tem duas formas de se apresentar, que são a obsessão e a compulsão. A obsessão se caracteriza pelos pensamentos. É quando a pessoa tem pensamentos intrusivos, como, por exemplo, quem vê na imagem mental algum acidente com os filhos. 'Isso é algo intrusivo, porque a pessoa não quer pensar nisso, mas parece que precisa pensar', conta.
No caso da vertente da compulsão, que se trata dos atos, é algo possível de ser visto. As pessoas praticam algum ato para anularem o poder do pensamento de ocorrer algo ruim, como bater algumas vezes na madeira. 'Como se isso fosse anular alguma coisa. As pessoas fazem isso para diminuir, na hora, a sensação de ansiedade', explica.

TRATAMENTO

O Toc se trata de uma preocupação excessiva com coisas do cotidiano que não têm importância. Às vezes, segundo o profissional, é difícil diferenciar essa preocupação entre um comportamento neurótico (um pouco mais excessivo, mas que não chega a ser patologia), para uma doença que não tem fundamento lógico.

De acordo com Terra, como é uma doença que, muitas vezes, tem a ver com a genética, significa que há circuitos cerebrais em mal funcionamento. Deste modo, o Toc é tido como uma condição persistente, ou seja, a pessoa sempre vai ter uma tendência a produzir esses sintomas.

As medicações usadas para controlar os sintomas são as mesmas para depressão. O Toc, por exemplo, também tem a ver com a falta de controle. À medida que a pessoa sente ansiedade, ela não consegue controlar, por ser mais forte do que ela. 'A gente costuma pensar que no Toc, os sintomas ficam controláveis e a pessoa determina se vai ou não fazer aquilo', conta.

Para aliviar os sintomas, o profissional destaca que é fundamental buscar tratamento médico permanente com um psiquiatra, pois a pessoa por si só não consegue controlá-los.

Com os rituais do Toc, a perda de tempo

A autônoma Sabrina Elias, 18 anos, conta que começou a desenvolver Toc quando tinha 15 anos. Na época, após perceber que perdia muito tempo com todos os rituais da doença e o quanto eles a prejudicavam, resolveu buscar tratamento psiquiátrico e psicológico. Sabrina acrescenta que, na época, ela passava por situações muito difíceis, o que contribuiu para o desencadeamento da doença.

Entre os rituais de Sabrina, estava largar o copo, fechar as portas e fazer uma série de atividades sempre com o auxílio de duas mãos. No início, os atos eram apenas à noite, mas se agravaram e já durante o dia ela também não controlava mais algumas ações. Além disso, conta que quando encostava com a mão direita em um objeto, necessitava, logo em seguida, encostar com a esquerda: 'Quando eu encostava duas vezes, por exemplo, em um armário, e eu não gostava do número, acabava encostando mais vezes até chegar em um número que fosse bom para mim. Depois eu fazia o mesmo com a outra mão', relata.

Sabrina ressalta que sempre cuidou uma sequência de números: 'Quando eu dizia 'boa noite mãe, te amo', eu tinha que falar isso uma quantidade de vezes.' Ela conta que em alguns momentos, antes de dormir, gastava uma hora para encostar em alguns objetos do quarto uma determinada quantidade de vezes. 'Eu deitava e pensava: 'ah, não gostei disso, vou levantar e fazer de novo', então abria e fechava a porta do armário com as duas mãos e encostava de novo nas coisas', acrescenta.

Ela ainda comenta que, embora hoje os sintomas não sejam mais tão acentuados, às vezes, quando ocorre algo ruim, alguns deles voltam. 'É algo involuntário, que eu sei que não tem necessidade de eu fazer, mas se eu não fizer, parece que algo ruim vai acontecer', destaca.