Por Emilia Freire
Vez por outra chega de mansinho aquela fase viscosa, nebulosa,
preguiçosa, que se instala devagar, e devagar se demora a retirar.
São as notícias do mundo, é aquele projeto que ainda não decolou, os
papos andam repetitivos, a política mostrando um cenário desolador, as
notícias infelizes a trágicas golpeando de vez o pouco otimismo que
ainda teimavam em resistir.
E, como acontece na moda, subitamente um monte de gente amanhece
vestindo o mesmo estilo, as mesmas cores, o mesmo corte, o mesmo
desânimo. É um fenômeno coletivo, inevitável, temporal.
A moda ao menos sinaliza uma outra proposta, mas esse desânimo, essa
desesperança, esse enorme e profundo cansaço, se possuem alguma
utilidade ou propósito, estão soterrados na massa de bordões e lamentos
que segue em repetição.
É a temporada dos desânimos exaltados. E então não há boa notícia que
quebre facilmente esse ciclo; não há otimismo rebelde que esquente
cadeira num cenário de ânimos gelados e endurecidos.
Triste é pensar que o tempo nada se importa com essas férias forçadas
do bom senso, e continua seu caminho, passando e levando as horas, os
dias, anos, vidas.
O desânimo congela, paralisa, imobiliza. Nada se ganha com as intermináveis ladainhas, nada se lucra com a desesperança.
A vida não é fácil, mas ainda não é morte.
A política nos assombra, mas ainda cabe luta.
Brutalidades são cometidas, mas ainda sabemos discernir.
Decepções acontecem, mas a vida é assim. E ainda não é morte.
Os desânimos exaltados só possuem serventia para quem o que nos preferem fracos, sem reação, sem noção.
Se o momento não é favorável, que sejamos parte da engrenagem que o
fará passar mais rápido. Se as notícias são tristes, que busquemos e
propaguemos as boas, porque elas existem e ainda não capazes de encher
os olhos mais vazios, com muita emoção. Caso contrário, é só deixar o
tempo passar, e nos levar.