Por
Um acidente, uma enfermidade, a morte de
um ente querido, o fim de um relacionamento amoroso e muitas outras
coisas inesperadas e duras podem nos obrigar a nos afastar dos prazeres
cotidianos e a nos confrontar com o sofrimento e com a dor.
Não gostaria de expor aqui meus
problemas de saúde e por isso dispenso os detalhes. Só digo: andei mal,
muito mal, com muitas dores. Agora estou melhor, olho para trás e
constato: não foi ruim, pois me fez parar, me vez rever muitas coisas e
me fez reencontrar a mim mesmo.
Entramos facilmente no que chamo de
“parafuso da vida” e começamos a girar com ele, nos acostumando com a
rotina, aceitando ser levado pelo cotidiano e correndo atrás de tantas
coisas, já que temos tanto para fazer e resolver, e nunca paramos.
Quando paramos um pouco, então para ir atrás de prazeres imediatos e
coisas sem real importância. Por mais atentos e críticos que sejamos,
terminamos achando de tudo nesta vida, mas nunca ou só raramente
encontramos tempo para nós mesmos, perdendo sempre um pouco mais de
nossa paz e nossa saúde interior.
Vi por aí um comentário hedonista que
dizia que ninguém precisa sofrer para ser feliz. Não precisei refletir
muito para perceber que a questão não é de precisar de sofrimento ou
não. A questão é outra: o sofrimento é inevitável! Não tem jeito. Todos
nós terminamos sofrendo um dia, mais cedo ou mais tarde, de uma forma ou
de outra.
Então, os hedonistas deste mundo que me
perdoem, mas buscar constantemente a satisfação imediata dos prazeres só
funciona até o dia que em que a vida resolve dar uma freada na coisa.
Um acidente, uma enfermidade, a morte de um ente querido, o fim de um
relacionamento amoroso, um desemprego repentino e muitas outras coisas
inesperadas e duras podem nos obrigar a nos afastar dos prazeres
cotidianos e a nos confrontar com o sofrimento e com a dor.
O que fazer então? Relutar,
desesperar-se, ignorar, fugir, entorpecer-se? Penso que não adiantaria. O
melhor caminho que vejo é aceitar. Não digo aceitar passivamente e
muito menos “se apaixonar” pela dor (isso seria masoquismo!). Digo
aceitá-la como inevitável, mas também como quem tem algo a nos dizer,
que quer talvez nos mostrar o quanto somos frágeis, que quer talvez nos
pedir (ou mesmo nos obrigar) a parar para rever nossos conceitos, nosso
modo de lidar com o corpo e a alma, para percebermos talvez que já
giramos tanto com o “parafuso da vida” que nem percebemos mais que já
estamos tontos, que já perdemos o norte, que possivelmente já nem mais
sabemos direito quem somos e o que queremos.
Na verdade, a vida vive constantemente
nos convidando a parar para refletir sobre o que nos faz bem ou não, mas
ignoramos esses convites, até chegar o dia quando somos então obrigados
a fazê-lo, querendo ou não. Talvez sofrêssemos menos neste mundo se
parássemos mais vezes, entre uma coisa e outra, para refletir, se
(re)orientar e se (re)encontrar, ao invés de esperar que a vida um dia
nos obrigue a isso.
E então, o que acha? Não estaria na hora
de você dar uma paradinha, fazer férias, descansar ou simplesmente ir à
floresta e abraçar uma árvore? Pense nisso!
Texto Original: Caminhos