Por Ana Macarini
Passar pela vida sem nunca topar com os “adoráveis donos da verdade” é
quase tão impossível quanto fazer mergulhos no Mar Morto; escalar o
Himalaia de biquíni ou usar um casaco de lã no Sertão Nordestino. Gente
que vomita definições e certezas é igual a erva daninha: brota em
qualquer lugar! E como falam! Falam sobre suas tristezas, alegrias e
demandas com tamanha propriedade que, se você não ficar esperto, vai
achar que os tais sabem mais da sua vida do que você! Despejam conselhos
em suas orelhas com aquele ar de pretensa bondade, como se fosse um
milagre você ter sobrevivido até agora sem suas sapientíssimas
orientações! Desfiam um rosário de grandes feitos, e sucessos e
vitórias, como se a vida deles (para o bem ou para o mal), fosse da sua
conta ou estivesse concorrendo a algum tipo de premiação de virtude e
competência! Portanto, arme-se de paciência. No fundo, os donos da
verdade não passam de um punhado de gente “sem noção”!
PRESTES A EXPLODIR
A incapacidade para coordenar e compreender que a existência de
diferentes pontos de vista é fundamental para a evolução e construção de
relações libertas da necessidade de comando, pautam o comportamento das
pessoas intolerantes, insensíveis às necessidades do outro e isoladas
em sua tosca arrogância. Blindados em suas cascas de respostas prontas e
imediatas, esses indivíduos se alimentam da mansidão daqueles cujos
espíritos não têm sede de poder, nem se fortalecem na subjugação de quem
quer que seja.
As reações diante da negação de suas vontades ou da oposição às suas
determinações lembram shows de pirotecnia. Os donos da verdade,
sustentam sua pose às custas de temperamentos explosivos, por meio dos
quais tentam amedrontar a quem ouse lhes negar audiência. O fato é que
tanto estardalhaço, revela muito barulho para pouca consistência. Falta
aos sabichões, segurança em si mesmos e argumentos capazes de sustentar
seus arraigados discursos.
ALGUÉM TEM QUE POR LIMITES
Como um caminhão, desabalado e sem freios numa ladeira íngreme, essa
gente que pensa que sabe tudo, não conta com a existência de alguém que
os possa deter. Seguem ditando regras e ritos, como se o mundo tivesse
obrigação de ouvi-los e obedecê-los. E, tanto faz se o poder que
ostentam é concreto ou não passa de elucubração de seus sonhos
megalomaníacos. O limite que se pode delinear, diante de tanta
petulância, só pode ser constituído nas mãos de quem, com firmeza e
serenidade, consegue manter-se imune às artimanhas ou deliberações
autoritárias. Com argumentos sólidos e coerentes, os donos da verdade
não sabem lidar; ficam mudos, irritados e ariscos. Sendo assim, respire
fundo, conte até mil, olhe com compaixão para essa criatura atormentada e
não ceda, de jeito nenhum a chantagens ou ameaças. Afinal, o latido,
neste caso, é muito mais assustador do que o cão!
MUDAR DE IDEIA É ALTAMENTE LIBERTADOR
Deve ser exaustivo manter uma vida inteira presa nos mesmos trilhos.
Não há curvas, nem atalhos, muito menos desvios. Ideias cristalizadas
roubam da pessoa a leveza necessária para enxergar outras
possibilidades, quando as estratégias já ultrapassadas, perdem sua força
e eficácia. A satisfação de um desejo não pode custar a liberdade de
mudar de ideia, de jeito, de lugar. As mudanças são como sopros de ar
fresco a renovar os ânimos e abrir os olhos invisíveis da alma a uma
chance, novinha em folha, de fazer diferente o que já se faz
automaticamente. Assim sendo, gente que pensa que sabe tudo, sofre de
paralisação mental; de tão apegados que são às suas convicções, perdem
valiosas oportunidades de aprendizado e crescimento.
PÍLULAS DE HUMILDADE
Quanto mais competitivo for o ambiente, quanto mais será favorecido o
surgimento de relações baseadas em disputas de poder. Não é de se
admirar que os locais de trabalho sejam os cenários mais recorrentes
para a atuação daqueles que não resistem ao desejo de fazer valer suas
opiniões a todo custo. Esse comportamento impede todos os envolvidos na
relação de viver oportunidades de troca e reflexão. Comportamentos
alimentados pela ambição excessiva costumam deformar o caráter, levando a
pessoa a lançar mão de artefatos pouco éticos para alcançar seus
objetivos. A humildade é um santo remédio para livrar os sabichões do
redemoinho formado por suas posturas egocêntricas e arrogantes. Um
milímetro cedido a cada dia, de repente, pode levar o dono da verdade
para longe da ruína definitiva de suas relações pessoais, afetivas e
profissionais. Então, se o todo poderoso, dono da razão tem importância
afetiva para você, tente ajuda-lo a engolir algumas “pílulas de
humildade”. Se der certo, todo mundo sai ganhando!
E SE A CRIATURA FOR IRREDUTÍVEL?
Por mais que tentemos tirar de nossas mãos a responsabilidade por
tudo quanto nos acontece; ora pondo a culpa no destino, ora pondo a
culpa no outro, a verdade é que são as escolhas que fazemos a cada
instante do dia, que modulam o ambiente à nossa volta e nossa maneira de
nos relacionarmos com os demais. Portanto, se a vida trouxe para você
um dono da verdade de presente, escolha não ser engolido; escolha
entender que se alguém curte cultivar a crença de que suas opiniões são
as únicas e de que sua ajuda é desnecessária, além de não ser bem-vinda,
precisa também curtir a opção de viver isolado e só. Que o espertíssimo
vá cuidar da vida dele e deixe você cuidar da sua. Afinal, a vida é
breve demais para nos darmos ao luxo de gastar tempo com quem não está
minimamente interessado em como nos sentimos, sobre o que pensamos e no
que temos a dizer. Diante de um dono da verdade convicto e irredutível, a
melhor alternativa é a distância! Afinal, quem sabe o isolamento e a
possibilidade de ouvir nada além de sua própria voz gritando verdades,
desperte a criatura de seus insanos sonhos de grandeza e dominação!