Por Michelle Ferreira
Esse ano, no dia dos pais, vi uma coisa
que achei muito curiosa, porque nunca tinha visto antes. Não sei se
realmente não se falava nisso ou eu é que nunca tinha reparado, mas me
chamou a atenção e por isso resolvi dar uma refletida.
Algumas páginas do Face fizeram posts
falando que o
aborto dos homens é legal, pois não sei quantos milhares, ou milhões de
brasileiros não têm registrado sequer o nome do pai em seus documentos
(eu mesma não tenho). Além disso, sobre como é injusto o julgamento que
fazem com uma
mãe solteira, que é sempre vista como uma “coitada”, enquanto que o pai
solteiro é sempre visto como “o maior exemplo de ser humano possível”.
E como isso ocorre de forma automática sem se avaliar, nem por um
instante, se a mãe é ótima e o pai meia tanga, como se tais análises
fossem indiferentes e dispensáveis.
Doido, né?
Para mim, foi surpreendente que a
discussão acontecesse no domingo passado. Achei ótimo. Aparentemente,
estamos caminhando para algum lugar. Contudo, como somos formiguinhas,
vim aqui dar uma luz a um detalhezinho para vocês que seja, talvez, um
pouco mais sutil.
Eu tive uma filha com 17 anos, alguns de vocês devem ter lido meu outro texto.
Durante todo o tempo em que eu vivi com o pai dela, existia um discurso
que eu escutava frequentemente, que me penetrava mais como uma agulhada
no tímpano, daquelas que você vê o tempo parar por uns 3 segundos e
arrepia toda a sua espinha. Enquanto você olha para a cara da pessoa
prendendo a respiração e tentando racionalizar se aquilo realmente foi
dito ou se você escutou errado, passam muitas e muitas respostas a
altura para você dar sobre aquela infeliz e desnecessária colocação, e
quando você percebe que é real simplesmente concorda, porque bem… É
melhor nem perder tempo discutindo, ainda mais se a pessoa não tiver
intimidade com você.
Esse comentariozinho, tão recorrente,
quase que diário, ou pelo menos certo de que fosse acontecer se eu
encontrasse com alguém que não via há tempos pela primeira vez, me
desconcertava de uma forma que eu realmente não tenho competência para
descrever com palavras.
Ele era, na maior parte das vezes, feito por mulheres,
de diversas as idades, classe, credo ou raça, mas era em sua grande
maioria feito por mulheres mesmo, e esse ponto é importante de ser muito
bem grifado, pois era o que mais me quebrava as pernas.
“ Que sorte a sua né? O seu namorado assumir essa criança. ”
Gente, repassa isso aqui, por favor!
Não digam isso. Não pensem isso.
Não julguem isso. Não. Somente não. Se vocês flagrarem alguém pensando
em dizer isso, impeça-o! Começa a cantar a Luz de Tiêta, e muda de
assunto rapidinho. Porque é horrível.
Não dá para explicar a raiva, o desgosto, o desapontamento que é. Só parem.
Eu passei 4 anos da minha vida de
mãe sendo sistematicamente tentada a aceitar que o meu maior mérito da
vida toda fosse ter um namorado que assumiu a minha filha. Como
se o maior sucesso que eu pudesse alcançar fosse esse de ter um bom
homem ao meu lado. (Eu e a minha filha certamente éramos um sacrifício e
um fardo enorme pelo jeito). “ Ah, porque você sabe que isso é raro,
né?“. Pois é, é sim, mas não é por isso que homens que trocam fraldas
merecem troféus. Uma vez eu li que: “Paternidade ativa é redundância.
Paternidade só pode ser ativa, se não é ausência. ” Simplesmente assino
embaixo.
Hoje que não estamos mais juntos, é
lindo, sou imensuravelmente mais feliz, entre outros motivos, por não
precisar mais escutar isso! Nunca pensei que um fracasso (pelo raso
ponto de vista dos outros) pudesse fazer tão bem.
Texto Original: Feminismoempratica