A depressão não avisa: ela pode aparecer de um momento para o outro. Embora
possa apresentar alguns sintomas (inclusive com bastante tempo de
antecedência), a diferença entre a tendência e a condição é a mesma que a
diferença entre estar a um passo de um buraco profundo e cair nele. A
depressão pode aparecer depois de uma alegria imensa ou justo no momento
em que pensamos que tínhamos conseguido tudo.
O olhar de uma criança, observar um pôr
do sol ou outros eventos diários aparentemente amáveis e reconfortantes,
ou até mesmo inconsequentes, podem ser o meio conducente à crise.
Por exemplo, começar a fazer uma recapitulação da vida ou evocar um
fato particular da nossa existência, do que ficou por resolver. É aí que
pode começar a tempestade que até o momento estava adormecida.
“Os mais fortes talvez lutem por uma hora. Os que são ainda mais fortes lutam por alguns anos. Mas os mais fortes de todos lutam por toda a sua vida; estes são os imprescindíveis”
A depressão e o ensinamento de não se pré-ocupar
Não nos “pré-ocuparmos”. Isto é, não antecipar uma preocupação que nos gera ansiedade
sem nos tornarmos desinteressados ou apáticos às situações e problemas
da existência. A preocupação com o futuro e a impotência diante da
incerteza, além das vicissitudes da vida, frequentemente nos conduzem a
um estado de medo recorrente, e isso pode nos levar a uma depressão profunda.
Por vezes, a própria existência pode se tornar confusa e difícil. Por isso, é essencial não depender tanto das circunstâncias: do que pode ou não acontecer.
O importante é crescer dia após dia na nossa estrutura pessoal, porque
com isso, por mais difícil ou adversa que uma situação possa ser,
teremos a capacidade de resolvê-la e de não ficarmos atolados em um
labirinto de dúvidas e erros. Ou, pior ainda, acrescentar mais
uma dívida à nossa vida…
O ensinamento de saber quem sou
Analisar as minhas características e
condições de vida de forma sensata e objetiva é me dar a grande
oportunidade de saber quem eu sou. Porque se eu não me conheço, posso
ser como uma folha ao vento: sem direção, nem critério, nem poder de
decisão. Identificar os meus pontos fortes e fracos me permitirá saber em quais terrenos posso me mover em quais não posso.
Porque se a depressão, por exemplo, me
induz ao álcool, a pior coisa que eu posso fazer é entrar em um bar e
pedir a primeira bebida que vir pela frente. Tendemos a ordenar as
circunstâncias que nos fazem recair e a criar armadilhas de todo tipo. É importante ser prudente, ter coragem naquilo que se deve ter coragem e não negar os nossos pontos fracos. Esse é o primeiro passo para não repetir histórias que não terminaram bem.
A nossa existência é cheia de processos: uns maiores do que outros, dependendo do nível de complexidade da situação. Assim, quem poupa os processos não só perde a grande oportunidade de aprender e ser mais autônomo, como também deixa uma dívida pendente consigo mesmo.
A “felicidade” pode ser a causa da minha depressão
Entender que a vida são alegrias
e tristezas, sucessos e fracassos, e até é mesmo um estado de grande
“felicidade” pode ser uma grande decepção. Porque tal
“felicidade” pode ser a maior sofisma da minha existência. Além disso, a
“felicidade” não é o sintoma de um verdadeiro bem-estar. O problema é
que, às vezes, confundimos “euforia” com “felicidade”. A primeira é
exaltação, a segunda, paz.
Podemos acreditar, de fato, que temos
tudo: sucesso profissional, sucesso pessoal e até mesmo sucesso afetivo,
e ainda assim cair na mais profunda depressão. Na verdade, algumas vezes ter tudo pode ser a causa principal da crise.
Porque manter, por exemplo, um status social custa, e muito. Um preço
que aparece na fatura do bem-estar social e que muitas vezes surge em
detrimento do bem-estar pessoal.
Vale a pena tentar
Se foi feito um diagnóstico e o
resultado mostrou uma depressão profunda, é possível sair dela
especialmente se contarmos com a ajuda de um profissional e de um bom
círculo de apoio social. Obviamente isso não será o produto de um gênio
saindo de uma lâmpada mágica. Isso vai exigir muito de nós, mas o
objetivo faz tudo valer a pena. Nós mesmos e a nossa recuperação são motivos mais que suficientes.
No geral, estes processos de recuperação
são graduais e difíceis. O tempo passa devagar, e um dia pode deixar a
sensação de 100 anos. É preciso ter paciência e saber que os grandes problemas da vida requerem tempo.
Nestas circunstâncias, mudar um ou vários hábitos da vida para poder sair deste terreno tão obscuro é algo imprescindível. Praticar exercício e ter vários passatempos que nos estimulem também é importante nestes processos de recuperação.
Outra coisa que também pode ser de
grande proveito é compartilhar experiências e pontos de vista diferentes
com outras pessoas que tenham sofrido com doenças semelhantes. Além
disso, em muitos casos ou em quase todos, evitar ao máximo as situações que nos levaram à depressão é um dos melhores aliados na nossa recuperação.
Não tomar decisões precipitadas, muito menos em aspectos importantes
Em situações de alto risco ou de crise, é melhor fazer uma pausa acentuada e não tomar decisões precipitadas ou fazer algo que possa acabar com a nossa existência. Um momento ruim ou péssimo passa, e a vida continua no dia seguinte.
Algo muito estranho, mas certo, é que de
repente surge a virtude da solidariedade e compreensão na pessoa,
podendo haver alguns momentos de tranquilidade e relaxamento
inesperados. A dor própria pode ser canalizada através da generosidade face à dor dos outros. Dar lugar à sensação de utilidade e valia é uma forma de recobrar uma parte desconhecida e muito bonita de si mesmo.
Os sofrimentos e as injustiças no mundo
podem ser um fator de motivação mais do que válido para focar as nossas
metas para um objetivo mais transcendental. Elas podem ser um caminho
para a realização pessoal e uma forma de curar as nossas feridas,
compreendendo e ajudando a curar as feridas dos outros.
Em geral, não é fácil conseguir isso; e a
pessoa deve estar muito preparada para enfrentar estes terrenos
complexos e íngremes. Mas vale a pena pelo menos tentar: pelos outros e,
é claro, por nós mesmos. Nós só temos uma vida e precisamos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para que ela tenha significado e vá além da mera sobrevivência.
Fonte: Amenteemaravilhosa