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É incrível perceber o quanto as pessoas interessantes são parecidas com estradas. Elas sentem aquele comichão no peito que as faz seguir e continuar, passo a passo, rumo ao desapego e ao novo. Nem sempre são estáveis, porém, são profundamente interessantes, pois, não temem experimentar na pele, novas possibilidades. Cada situação de busca e possível encontro é alimento para alma e para o conhecimento. O olhar fica a frente, a sensibilidade ao lado. O familiar é fonte de respeito e conhecimento. Talvez exista uma ruga a mais em alguns momentos perante a indecisão, porém, o brilho nos olhos é mais radiante.
O homem é um ser desejante, desde o
nascimento é vorazmente carente de estímulos, novas sensações e
conhecimentos. Penso que quando a pessoa canaliza essa energia de busca
para algo saudável, ela é alguém com objetivos prioritariamente
construtivos. Ela pode ser “faminta” por conhecimento, por aventuras,
viagens, por amores. Porém, quando essa mesma energia é canalizada na
busca de sensações de prazer, mas que não acrescentam um conteúdo
simbólico como, por exemplo, o consumismo exagerado, que é uma marca tão
forte de nossa geração, percebemos a criação de um novo perfil de
dependentes que, embora não sejam usuários diretos de uma substância
química, não sobrevivem sem seus prazeres efêmeros. Logo, se não
consumem, imediatamente sentem-se vazios e entristecidos.
A energia do homem precisa ser
canalizada para algo que lhe forneça uma identidade, um papel social. A
pessoa precisa ter uma ocupação em que se sinta produtiva, mesmo que não
seja remunerada integralmente. Precisa de reconhecimento de seu local
no mundo e também precisa transmitir características que são só suas, o
que caracteriza a herança cultural de um povo.
Porém, se o meio em que vive dita como,
quando e com quem devo fazer algo, toda a espontaneidade acaba.
Transformamo-nos em máquinas responsivas, não pensantes, ansiosas e
muito angustiadas, pois, apesar dos bens alcançados, não existe
realização pessoal real.
Acredito que precisamos sim nos
enquadrar socialmente, porém, sem perder o olhar a frente e nem nossa
criticidade. É necessário que saibamos o real motivo de nossas escolhas
para que não retroalimentemos ciclos e mais ciclos de autossabotagem
emocional.
Precisamos sentir mais, mesmo que o
sentimento seja ruim. Precisamos questionar mais, mesmo que o rosto do
colega não seja o mais satisfeito. Porém, mais do que tudo isso,
precisamos viver mais e melhor. Enquanto estamos vivos, podemos aprender
e mudar.
Texto Original: Caminhos