8 de maio de 2016

Quando um passado nos incomoda


Por: Simone Guerra

Só temos a certeza que tudo acabou, quando vemos que, ao lado da outra, ele se completa. De repente, você olha para a alegria dos dois de mãos dadas e percebe que esse detalhe ainda mexe com os seus sentimentos. Não suportamos e um nó na garganta quase rompe em um grito de choro, mas precisamos nos segurar, pois estamos na cena do confronto: ele com ela felizes, e nós sozinhas.

Quando o romance termina, vivemos um momento de inércia para pensarmos melhor em nossas vidas ou recomeçarmos. É o momento do isolamento. É o momento que todos tentam nos consolar com frases feitas e abraços amigos, mas não os escutamos. Tudo soa sem vida, sem vontade. É o momento que estamos curtindo a dor, pensando no que foi e como vai ser agora.

Não vamos receber as ligações dele naquela hora que sempre ficávamos esperando. As comemorações juntos vão ser com a outra pessoa. A família dele não nos pertence mais. Os amigos em comum vão fazer suas escolhas, se vai ser com nós ou com ele a amizade. Tudo se reparte, se divide, no fim alguém chora e, o outro, segue mais rápido para começar mais uma vez.

E, de repente, estamos ali na cena, vendo ele com a outra. O tempo passou, aquele luto da perda, já vencemos, mas vendo ele feliz com ela linda a tira-colo, é apunhalar nosso coração mais uma vez. Então, as memórias entre nós e a frustração de que passou para sempre, desinquieta nossas emoções.

Ninguém está imune as decepções e as tristezas, mas a sensação de perda para sempre, é a pior delas, particularmente, quando a relação ficou para trás, quando ele decidiu migrar para outra pessoa, quando não tinha mais como dar certo.

Na perda há vazios, há comparações e há desajustes emocionais. Temos aqueles sentimentos de angústia e de revolta e de desejar infelicidade. Olhamos para ele e temos aquela sensação que se dane da boca prá fora. Desejamos, praguejamos e perdemos o controle. Não é vexame. Não é loucura. É não suportar aquela cena patética e desgraçada dele com a outra de mãos dadas. É picar em pedacinhos as esperanças que tínhamos.

Os dois agora são amigos, confidentes e amantes. Ele era meu todo assim, mas agora é dela. Eu sigo sozinha contando os dias para que as lembranças dele possam partir de vez, enquanto ele ama a outra todos os dias, como fazia quando éramos um casal perfeito. Não é curtir dor de cotovelo, ruminar passado, é ser alguém apaixonado por alguém. Quem tem sentimentos não padece de solidão, mesmo que estejamos sozinhas. Sentir na veia das emoções a perda de um amor, é viver com dignidade um sentimento. É assumir que o relacionamento foi especial, mas que não pôde durar até o altar.

Ninguém é tão imune a ponto de não sentir nada ao ver um ex acompanhado ou que ele vai se casar. Ninguém é frio ou intacto que não sente qualquer emoção ao ver ele com alguém depois de alguns anos, ter notícias… Nem que seja raiva, vamos sentir.

Precisamos de ver a cena dele acompanhado para cairmos na real, de que ele se refez e está feliz. E você? Eu? Vamos doer mais um pouco até descobrirmos um novo alguém para colocar sorrisos em nossos rostos e massagear nossos sentimentos com amor.

A vida tem dessas coisas, e tantas outras mais… Mas quando é amor do passado, sentimentos de longos anos por alguém, não tem como esconder de nós mesmos, que a outra nos incomoda muito e remexe nosso sentimento adormecido ainda não curado.