Por Virgilio Magalde
Que caminho seguir? Com qual das duas pessoas eu me relaciono? O que faço agora? Qual curso escolher? Qual produto que eu compro?
Quando você escolhe um
caminho e deixa de escolher o outro, o que você perde é o conhecimento
sobre o não escolhido. Isso pode ser muito perturbador quando pensamos
que a nossa escolha talvez não tenha sido a melhor. Muitas vezes também,
ficamos parados problematizando nossas escolhas e também não avançamos
em uma decisão.
Mas escolher é liberdade, não?
Se você ama sorvete de
chocolate e eu te ofereço duas opções de sorvete: limão ou chocolate.
Qual você escolheria? Chocolate?!? Se eu estou condicionado ao sabor de
chocolate eu consigo afirmar que eu em algum momento escolhi livremente
um tipo de sorvete? A minha escolha era realmente livre?
Passando isso para outras
escolhas do nosso cotidiano: faculdade, trabalhos, passeios, viagens,
namoros, amigos, comidas, produtos… O que realmente escolhemos e o que
seguimos de acordo com o nosso passado/condicionamento? O que seguimos
de acordo com padrões sociais?
Será que muitas vezes não
fazemos escolhas apressadas, sem realmente conhecermos as
possibilidades. Nesse ponto, nossa escolha não é livre no sentido mais
real da palavra, pois agimos condicionados a algumas crenças. Perdemos
nesse caso uma oportunidade de nos conhecermos melhor e de seguir novos
caminhos.
Se você só prova o sorvete de limão, então ele vai ser sempre a sua escolha e será para você o melhor entre todos os sabores. Permita se conhecer e também a vida a sua frente com com os seus sabores.
Um exemplo: Você tem que escolher entre duas pessoas, uma que já
estava a mais tempo e uma nova. Você escolhe quem você já conhece porque
você já conhece (risos). Sabe as qualidades, os defeitos, sabe o que
não gosta e o que gosta nessa pessoa, conhece sua família, conhece suas
crises, conhece suas brigas e seus sonhos. Chega um tempo e você se
pergunta: será que a minha escolha foi a melhor?”
Fique tranquilo, no fundo você não escolheu, apenas seguiu fazendo
algo que sempre fez. Você não deu opção para a segunda pessoa, você não a
conheceu. Nesse momento você já indicou a primeira. Você ainda está
preso naquela vida que você planejou e onde encontra certa segurança,
não que isso seja ruim. O resultado você já sabe, algumas situações
podem se repetir em sua vida.
Se você não pôde conhecer bem e tomar consciência das duas opções, então essa não foi uma escolha livre.
A real liberdade não é você ter
duas opções, mas sim infinitas. É você poder ir aonde quiser, não em
ter que escolher apenas dois lugares. A liberdade acontece em situações
em que onde você tenha que escolher entre um caminho e outro sejam menos
triviais. No sentido de que você está tão aberto para qualquer
possibilidade e sabe tanto quem você realmente é; que a vida não
necessita te perguntar, ela apenas flui — como um rio te levando aonde
você precisa chegar. Quando chegar duas ou mais opções, você as conhece e
se conhece tão bem que a escolha não será um estresse.
Quando nos perguntamos se saímos pela porta ou pela janela, isso não é
liberdade. Isso é cativeiro disfarçado na sua mente. Geralmente quando
você sai de uma escolha dessas você se pega envolvido numa outra, depois
numa outra e depois mais outra.
Nós imaginamos que
fazendo uma escolha seremos livres, mas logo na frente ficamos pensando
na escolha que fizemos e encontramos mais opções para fazer. As vezes
queremos dar macha ré para voltar, mas se tem uma coisa que passa e não
volta atras é o tempo.
Convido a sermos realmente
livres, a sair dos nossos condicionamentos, a escapar daquele mapa que
traçamos para tudo e para todos, a parar de pegar o passado e replicar
no presente.
Se você não quer colher sempre a mesma fruta então plante outra diferente.
Até aquele amor que
você sente pelo outro pode estar condicionado. Pela sua necessidade você
o ama; pelo passado que vocês já tiveram você o ama; pelo seu medo você
o ama… Mas agora no presente, você o ama? Encontre uma nova forma de
amá-lo, antes que você descubra que talvez você nunca o tenha amado ou
que isso tenha ficado no passado.
O que é o amor em relacionamentos do que poder estar na presença de
qualquer um para se relacionar e ter a liberdade de escolher estar com
um só? Amor e liberdade caminham juntos.
Permita-se conhecer
os caminhos, permita-se se conhecer. Se você não fizer isso, você não
terá opção. Você irá fazer o que sempre fez e ter os mesmos resultados…
O que escrevo aqui não é uma
fórmula pronta e nem algo mensurável. Não é necessário sair medindo ou
aplicando a sua liberdade, apenas tome consciência do que é realmente
ser livre.
A prática propositada da meditação afeta profundamente nossa personalidade.Somos escravos do que não conhecemos; do que sabemos somos mestres. De qualquer vício ou fraqueza em nós mesmos descobrimos e entendemos suas causas e seus funcionamentos, nós os superamos pelo próprio saber; o inconsciente se dissolve quando o trazemos à consciência. A dissolução do inconsciente libera energia; a mente se sente adequada e se torna quieta — Sri Nisargadatta Maharaj
Você é livre para tomar aquela decisão?
Pense nisso. Medite, se observe e converse.
Shanti (esteja em paz)