Por
O trabalho tem papel central na vida das
pessoas. Ter ou não um trabalho ou um emprego afeta a pessoa em sua
perspectiva de vida, de sustento próprio e da família, na sua autoestima
e nas relações sociais: ser trabalhador é uma questão de identidade.
Por outro lado, observa-se que as
condições, os processos e a organização do trabalho têm afetado
negativamente a saúde das pessoas, ocasionando acidentes e doenças
relacionadas ao trabalho.
Alguns dados:
• Hoje temos cerca de 30% de transtornos mentais menores e 5 a 10% graves entre os trabalhadores no mundo, segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde.
• Os transtornos mentais constituem a terceira causa de concessão de benefícios previdenciários por incapacidade temporária para o trabalho, superada apenas pelos acidentes e doenças osteomusculares. Porém, ainda segundo a Organização Mundial da Saúde, ainda nessa década, eles serão a primeira ou segunda causa de afastamento do trabalho.
Algumas características que devem ser
observadas na pessoa que está adoecendo e que estão prioritariamente
relacionadas à “organização do trabalho”:
• Excesso de atividades, pressão de tempo e trabalho repetitivo;
• Conflito de papéis entre subordinados e superiores;
• Falta de apoio social, por parte da chefia, colegas e família;
• Tecnologia de produção em série e processos de trabalho extremamente automatizados;
• Trabalhos em turnos;
• Ameaça de desemprego;
• Competição;
• Jornadas prolongadas de trabalho;
• Responsabilidades excessivas e sobrecarga de trabalho;
• Diferenças em valores pessoais da pessoa e o que lhe é cobrado em seu trabalho.
• Conflito de papéis entre subordinados e superiores;
• Falta de apoio social, por parte da chefia, colegas e família;
• Tecnologia de produção em série e processos de trabalho extremamente automatizados;
• Trabalhos em turnos;
• Ameaça de desemprego;
• Competição;
• Jornadas prolongadas de trabalho;
• Responsabilidades excessivas e sobrecarga de trabalho;
• Diferenças em valores pessoais da pessoa e o que lhe é cobrado em seu trabalho.
Embora, num primeiro momento, os itens
descritos acima não aparentem ser tão diferentes do dia-a-dia da maioria
das pessoas, é notório o fato que o número de pessoas que chegam até
mesmo ao suicídio em função do trabalho cresceu, e isso inclui o Brasil.
Uma característica comum em
trabalhadores que não podem expressar seus sentimentos, é a
“supervalorização de doenças físicas”, pois estas são mais visíveis e
comprováveis e assim, uma forma concreta de mostrar à sociedade que
existe um sofrimento real. O entorpecimento dos sentimentos através do
álcool e outras drogas assim como de medicações “lícitas” também é
comum.
O trabalho é saudável quando permite que
a pessoa exerça de alguma forma sua criatividade, construa algo e, em
troca, obtenha reconhecimento social e financeiro. Mesmo o estresse é
considerado positivo se for exercido dentro dos limites de tolerância do
trabalhador, lembrando que esses limites são individuais e váriáveis
temporalmente.
Em recente passagem pelo Brasil, o prof.
Yves Clot, conceituado psicólogo do trabalho e pesquisador do
Conservatoire National des Arts et Métiers de Paris, participou I
Simpósio Internacional Saúde Mental e Trabalho, junho- 2012. Em sua fala
ficou clara a disparidade entre as intenções reais do trabalhador e o
trabalho que o mesmo deve executar, quando ele descreveu uma pesquisa
realizada nos correios de Paris diretamente com os funcionários que
tinham a incumbência de, além de realizar os serviços tradicionais de
postagem, realizar vendas conjugadas. Segundo o professor, é sabido que
os correios, não têm mais condições de sustentar-se apenas com os
serviços tradicionais após a internet, sendo assim, os seus funcionários
são treinados para vender produtos como caixas para sedex, por exemplo.
O que foi estudado foi o efeito psicológico dos funcionários ao lidarem
com uma população exigente e que não tinha uma boa adaptação à mudança.
O sofrimento também era causado, pois eram clientes usuais, que, muitas
vezes levavam suas caixas prontas e preparadas com esmero. O
funcionário, então, tinha que dizer a esse cliente que sua caixa não era
“apropriada” para o envio e tinha que vender um novo produto.
Podemos fazer um paralelo entre o
trabalho exercido, no Brasil, dos funcionários que vendem “garantia
estendida” de produtos sem que isso seja o desejo do comprador.
Nesse mesmo seminário, foi dado o
exemplo de uma funcionária de uma grande loja de departamento brasileira
que, após seguir as instruções da gerência, vendeu um produto com
garantia estendida à uma senhora analfabeta tendo, inclusive, que
carimbar sua digital. Após esse evento que foi ética e emocionalmente
contra os valores da trabalhadora, a mesma adoeceu. Outros exemplos são,
por exemplo, os de trabalhadores de serviços de telemarketing que
vendem produtos que as pessoas não têm interesses, caixas de bancos que
tem metas de “colocar contas em débito automático e fazer vendas” ao
mesmo tempo que fazem todos os seus outros serviços, etc.
Vemos, então, e aí retornamos ao
entendimento do professor Yves Clot, que as pessoas têm que optar por
reações pelas quais elas não gostariam se fossem “livres” para decidir.
Aquelas reações que não venceram e que foram, mais ou menos reprimidas,
formariam, segundo Clot, “resíduos incontrolados cuja força é apenas
suficiente para exercer uma influência na atividade do sujeito, mas
contra a qual ele pode ficar sem defesa”. Em suma, o “real da atividade é
também aquilo que não se faz, aquilo que não sem pode fazer, aquilo que
se busca fazer sem conseguir – os fracassos –, aquilo que se teria
querido ou podido fazer, aquilo que se pensa ou que se sonha poder fazer
alhures” ou, o que é para ele um paradoxo frequente, “aquilo que se faz
para não fazer aquilo que se tem a fazer ou ainda aquilo que se faz sem
querer fazer”. E tudo isso sem contar com o que é preciso ser refeito.
Essa noção representa, a meu ver, uma contribuição importante para o
enriquecimento da análise ergonômica, mas, acima de tudo, deve ser
percebida como um recurso inestimável para a apreensão da dimensão
subjetiva da atividade, sem a qual uma verdadeira Psicologia do Trabalho
jamais poderia se efetivar.
A partir desses argumentos temos que
retomar o papel insubstituível do trabalho no desenvolvimento pessoal,
na construção da identidade, do próprio valor e na contribuição de cada
um para a formação do patrimônio histórico-cultural humano.
Todo profissional que acompanha
trabalhadores afastados pelos mais diversos motivos é capaz de
identificar o seu declínio social, na autoestima e, em consequência, do
humor em geral. Isso quando o sofrimento emocional ainda não é agravado
por uma dor crônica ou outro tipo de limitação física permanente.
Então fica a questão: “Nós, como
sociedade, permaneceremos coniventes com mecanismos perversos de
produção enquanto o nosso próprio capital humano adoece em números
assustadores ou chegou a hora de permitir que as pessoas falem o que
pensam e sentem sem que sejam punidas pelo sistema?”
Infelizmente, o que tenho visto é uma
sociedade de bens de consumo descartáveis também tratando seus próprios
produtores de capital como seres absolutamente dispensáveis e facilmente
substituíveis.
Você não concorda?
Então reflita se nunca ouviu frases como essas:
“Ninguém é insubstituível.”
“Você não quer, tem quem queira.”
“Se você acha que o seu salário está baixo, eu te demito e contrato outro por 30% menos.”
“A porta é serventia da casa.”
Pense nisso.
Texto Original: Caminhos