Dentre diversos fatores que podem causar
resultados traumáticos e negativos para a vida de um ser humano, nesse
artigo, particularmente eu gostaria de destacar o tão conhecido
Bullying. Não desejo que você leia aqui coisas óbvias e mesmices que não
lhe tragam nenhum tipo de acréscimo de conhecimento, muito pelo
contrário, o que eu puder fazer para que você leitor encontre novas
fontes de aprendizado e força de apoio, farei com todo o prazer.
Por esse motivo em especial, acredito
que não há nada mais sincero e verdadeiro do que escrever sobre aquilo
que de fatos conhecemos, no sentido de ter vivido, para que desse modo
seja possível enxergar um problema sob diversas perspectivas. Pensando
nisso, resolvi compartilhar a minha experiência com o bullying, que foi
um dos principais influenciadores e contribuintes para o desenvolvimento
da depressão na minha infância.
Como se sabe, o primeiro contato definitivamente social de uma criança
com o mundo é na escola. A partir desse momento ela passa a conviver com
outras pessoas, e começa a aprender a viver de alguma forma longe dos
pais, visto que, quando crianças, consequentemente vivemos o tempo todo
sob proteção e vigilância dos mesmos. Devo dizer que sempre fui
superprotegida. E eu definitivamente acreditava que a vida se resumia
apenas a minha casa e meus pais e meus irmãos. Não desejava um contato
com o mundo. Aliás, uma criança de seis anos já possui vontade de
conhecer o mundo? Creio que não, embora haja a nítida e constante
curiosidade presente nesse ser tão inocente e de certa forma puro.
Como tudo na vida, a primeira vez é sempre acompanhada de forte medo e insegurança, justamente pelo fato de não sabermos o que definitivamente nos espera. E como criança eu não queria ir para a escola, mas um dia chegaria a minha vez e eu teria de enfrentar esse primeiro desafio em minha vida. Com seis anos nós ainda estamos no processo de formação da nossa personalidade, e com toda certeza, exatamente tudo o que acontece conosco durante esse processo, influencia direta e indiretamente a qualidade de vida que teremos na adolescência e fase adulta.
Quando finalmente chegou o grande dia eu relutei e relutei em ir para esse novo lugar desconhecido, onde eu não teria o colo dos meus pais para me proteger quando fosse preciso. Eu tinha medo, e no fundo o meu medo teria futuramente um fundo de razão.
Sinceramente não me lembro exatamente quando tudo começou, mas foi em
1999. Eu estava na pré-escola ou “prezinho” como chamam em São Paulo. Eu
não tinha facilidade de me relacionar com os meus coleguinhas,
simplesmente porque começaram a acontecer coisas que eu como uma
inocente criança não entendia o porquê. Devo confessar que foi um
período muito doloroso na minha vida. Embora eu tenha sofrido durante os
quatro anos seguintes, 1999 marcou demais o início da minha vida
social.
Quem sofre bullying dificilmente expõe esse problema no momento em que ele de fato está ocorrendo. Nós sentimos medo, vergonha. E acima de tudo: nos culpamos. Particularmente não houve um momento em que eu pedi ajuda para meus pais. Eles simplesmente descobriram, por que as marcas no meu corpo já não eram mais discretas. Minha mãe percebeu que eu estava vindo machucada e quis saber o que estava se passando comigo. Simplesmente foi aí que eu contei tudo. O quê? Além de ouvir coisas ruins sobre mim por intermédio de comentários maldosos dos meus colegas, eles me torturavam. Me batiam. Me mordiam. E me faziam sentir um medo que eu nem mesmo sabia que existia. Eu simplesmente não sabia mais o que era sorrir. A minha vida estava muito difícil, embora eu tivesse apenas seis anos. Eu chorava tanto. Eu sofri tanto.
Para tentar resolver essa situação, meus pais conversaram com a minha professora, e decidiu-se que eu seria transferida de turma, para não ter mais contato com esses colegas de classe. Me lembro de minha primeira professora: carinhosa, protetora e compreensiva. Infelizmente tive que deixá-la. Mas existia a esperança de mudar minha situação para melhor, então pela primeira vez me senti aliviada.
Engana-se quem pensa que mudar de classe mudou minha vida. Quer dizer, mudou sim, para pior. Eu continuei a sofrer maus tratos. Só o que mudou mesmo foram os agressores. Comecei a indagar o porquê então disso tudo? Por quê me batiam? Por que não gostavam de mim? Por que me desprezavam, me criticavam? Por que eu não tinha amigos? E foi nessa época, que eu, tão nova comecei a acreditar que o problema era eu. Comecei a me culpar, a me desprezar como ser humano. Comecei a entender que se eles faziam o que faziam era por que eu merecia. Por que eu era o que eu era.
O Bullying é basicamente o ato em que o indivíduo promove a humilhação do outro de todas as formas. Ele denigre a sua imagem. Ele não te respeita e se acha superior a você. E você acredita. Quem pratica o bullying não se preocupa com o bem-estar do outro. Como alguém que sofreu com isso eu diria que o bullying é a forma que pessoas fracas encontram para tentar aumentar a sua confiança e autoestima por intermédio do processo que consiste em machucar o outro seja física ou verbalmente. Expor o outro ao ridículo. Provocar a dor sem pensar nas consequências que isso causará no outro.
Posso afirmar que o bullying afeta e
muito a vida das pessoas que sofrem com isso, independente da forma pela
qual esse problema é exposto. O bullying afetou minha autoestima, minha
confiança tanto para com os outros como para comigo mesma, minhas
relações interpessoais, dentre muitos outros aspectos pelos quais eu até
hoje luto para conseguir superar. Posso dizer que já não sofro mais por
ter passado por isso em minha vida. Já não me culpo mais por isso,
porque afinal de contas quem te problema nessa história toda é o próprio
indivíduo que o pratica. Embora tenha tido muitos problemas decorrentes
dessa época ruim, admito que hoje sou uma pessoa muito mais forte e que
graças a Deus desenvolvi a empatia pelas pessoas. Já ouviu aquele
negócio de que eu não quero para os outros o que eu não quero para mim? É
mais ou menos isso.
Infelizmente esse é um problema que se faz presente até os dias atuais, e
nós precisamos estar atentos quanto ao comportamento dos nossos irmãos
mais novos, filhos, e pessoas que estejam de alguma forma presentes na
nossa vida. Eles podem estar sofrendo em silêncio, assim como nós
sofríamos. Devemos ajudá-los. As consequências que um sofrimento como
esse traz para uma pessoa podem ser devastadores. Eu demorei anos e anos
para superar isso. Tenho 21 anos de idade e só agora deixei de me
culpar por toda a dor que sofri nessa época. Talvez uns superem mais
rápido do que outros, mas dá para imaginar o que é viver anos se
desprezando? Não possuindo confiança para fazer absolutamente nada na
vida? Não possuindo aquela vontade de sair e conhecer o mundo e as
pessoas que estão nele? Querer viver dentro de uma caixinha isolada?
Enfim, não dá para descrever exatamente todos os sentimentos que
envolvem um indivíduo que sofre com o bullying, mas dá para compreender o
quão grave isso é para a vida de um ser humano.
Todos nós somos iguais. Não há ninguém melhor do que ninguém. Deus nos ama por igual. O que eu desejo a você, que assim como eu passou por isso, é que nunca perca a esperança na vida. Se você superou isso, me sinto imensamente feliz. Se você ainda sofre com isso, espero que o meu exemplo lhe ajude a enxergar que você não está sozinho nessa. Você é forte e capaz. Você vai vencer esse obstáculo na sua vida e ainda obterá benefícios e aprendizado por intermédio dessa experiência. E caso você leitor que possivelmente ainda esteja passando por isso, não exite em pedir ajuda. Quem está cometendo o erro nessa história não é você. Peça ajuda. Pense em você acima de tudo e queira para ti sempre o melhor. Não deixe nunca ninguém te fazer acreditar que você não tem valor algum, pois você é uma dádiva de Deus.